Antiga
Villa dos Pescadores
Fundada em Maio de 1941
Patrimônio Cultural e Imaterial de Porto Alegre – 2025
Terra do Bacalhau ao Vento da Villa
Espaço de Diversidade
Bairro Assunção
Porto Alegre – RS
Bacalhau
da “Villa”
Conheça
o Peixe Seco ou Peixe Escalado,
Método
de Preservação Milenar e Herança Cultural
- O peixe seco ao sol e vento, ou "peixe
escalado", era um método comum de conservação de pescado na
provinciana Porto Alegre antigamente, especialmente antes da refrigeração
moderna. O processo envolvia abrir o peixe pelo lombo, salgá-lo e secá-lo ao
sol, o que permitia que fosse armazenado por meses, preservando-o para consumo
posterior.
Tradição
___A importância na antiga Villa
dos Pescadores de manter viva uma prática
que transcende gerações, ensinando não só sobre o método e culinária, mas sobre
história, sustentabilidade e a valorização de métodos tradicionais em um Mundo
moderno.
Nota:
- Conhecimento tradicional é o
tipo de conhecimento oriundo de uma cultura, de uma comunidade ou sociedade
tradicional e envolve conceitos como história, hábitos, crenças e valores, o
qual passa a existir geralmente a partir de uma necessidade obtida com a
experiência vivida, pois não existe cultura sem conhecimentos (RONCHETTI et
all, 2014 p. 33).
Villa dos Pescadores
___Poucos lugares teriam um domínio na
secagem de peixe ao sol e o vento como a antiga Villa dos Pescadores, curamos quase tudo o que saia do Guaíba.
___Os peixes eram
preservados por meio de métodos tradicionais como secagem e salga, ou defumação
e salga .
Nota:
- A maneira tradicional mais antiga de conservar
peixes era deixá-los secar ao vento e ao sol. A secagem de alimentos é o método
de conservação mais antigo conhecido no Mundo, e o peixe seco tem uma vida útil
de até vários anos. O método é barato e eficaz em climas adequados; o trabalho
pode ser feito pelo pescador e sua família, e o produto resultante é facilmente
transportado para o mercado.
Técnica Ancestral
___Uma técnica ancestral de
conservação de alimentos que foi muito utilizada na antiga Villa
dos Pescadores, herança passada
principalmente da Ilha da Pintada e de lá pelo método de
preservação milenar e herança cultural “açoriana/lusitana”.
Essencial para a comunidade local da época, o método não apenas fortalecia
laços sociais, econômicos, mas também preservava a herança cultural açoriana da
região.
Guaíba – Rio/ Lago/ Estuário
___No Guaíba
em Porto Alegre é possível
encontrar “Tilápia, Pintado e Robalo”, embora
as espécies nativas do lago sejam mais comuns e variadas. O Guaíba
é um ecossistema rico em
biodiversidade, com mais de 90 espécies de peixes nativos, incluindo “Bagres, Jundiás, Piavas” e outros, algumas delas
desconhecidas para muitos. Embora o robalo seja mais conhecido por ambientes
marinhos, ele também pode ser encontrado em águas salobras, como estuários, e
até mesmo em rios.
___O Pintado, por sua vez,
é um peixe de água doce bastante popular, conhecido por sua carne branca e saborosa.
A Tilápia também é comum em águas doces e pode ser encontrada no Guaíba, embora não seja uma espécie
nativa.
O Nome Bacalhau
___Na Villa
dos Pescadores devido a qualidade do
produto bem seco, carnudo e salgado deu origem do nome “Bacalhau”
diziam: - “o Bacalhau lá dos pescadores na vila do
DAER”, o nome pegou e o produto começou a ser cobiçado, principalmente
em datas especiais.
Clientela
___Na semana da Páscoa o
chamado “Bacalhau da Villa” era muito
solicitado, que não era possível produzir para atender os pedidos e a clientela
que vinha direto de casa em casa ou nas bancas de venda no Embarcadouro
do DAER na Assunção, na Feira
diária no Cais do Porto de Porto Alegre (antes do
Muro da Mauá) no Mercado Público e no Mercado
Livre na Avenida Júlio de
Castilhos.
___Conforme o morador Sr.
João Rosa:
“- Com a barca dava muito movimento, mas vinha
de tudo, né (...)
- Gente
da Tristeza,
Assunção,
Vila Nova.
Por que não tinha peixe né. Daí “por isso
aqui virou Vila dos Pescadores o pessoal começou a chamar.”
“- Naquela
época era só aqui ou no Mercado Público pra encontrar peixe, e no Mercado
Público tinha pouca oferta de peixe de rio, lá se encontrava mais
“peixe de água salgada”, então quem preferia “piava,
jundiá, pintado”, sempre comprava aqui.”
Núcleo Familiar
___Até o final dos anos 1940,
início dos anos 1950, segundo relato dos moradores,
existiam 9 núcleos familiares de
pescadores, espelhados ao longo da Ponta
do Dionísio.
Pescadores – Pescados – Personalidades
___Na Villa dos Pescadores, os pescadores em
suas atividades se desenvolveram economicamente de maneira rápida e organizada.
___Conforme o morador Sr.
João Rosa:
“- Era
uma época boa pra peixe, a gente tinha muita clientela (...) Até gente
importante comprava aqui. - A gente recolhia a rede bem cedo da manhã, limpava
e separava os peixes, vendia fresco.
“- A
gente fazia Bacalhau também, faz até hoje. A fila ia até a esquina. Sexta-feira Santa era
loucura, não parava um minuto. Naquela época dava muito peixe na rede, e peixe
maior do que tem hoje.”
Lupicínio Rodrigues
___O famoso compositor e
interprete “Lupi” foi um cliente assíduo da Villa
dos Pescadores.
___Conforme o morador Sr.
João Rosa:
“Lupicínio Rodrigues era um que vinha pelo menos uma vez por mês, pegava
umas piavas e o Bacalhau.”
Iguaria
___Além de ser uma técnica
eficaz de conservação, o peixe seco é uma iguaria apreciada, especialmente
quando preparado a partir de espécies específicas. A receita pode ser simples
ou elaborada, exigindo apenas peixe e sal, feito com muito cuidado e higiene.
Peixe Seco ou Escalado – Eventos
e Comemorações
___Não existe sociedade sem
cerimônias festivas, sejam elas tradicionais ou modernas, particulares ou
populares. As comemorações contribuem para a sistematização de uma identidade e
cultura local. Importante não somente para auxiliar nos difíceis momentos do
ano, quando a pesca era escassa e havia o peixe seco para suprir as
necessidades imediatas.
___Também nas festas
populares esta iguaria se fazia e ainda se faz presente, de forma sazonal.
Sazonalidade
___Sabe-se que a pesca tem
os seus períodos de fartura e escassez ao longo do ano, motivo pelo qual o
peixe foi salgado e seco conforme registros, aliado ao fato de não existir, na
época, outro método de conservação.
___Atualmente os mais
idosos ainda relembram como o peixe fresco no Guaíba era abundante em cada pesca, o
que implicava na necessidade de preservação para as variações sazonais,
transformando o pescado fresco em salgado e seco ao sol. Fruto de muito
trabalho e expectativas.
UM PROCESSO – VÁRIAS MÉTODOS E
RECEITAS
___O processo começa com a
escolha cuidadosa do peixe, que deve ser fresco e pescado no mesmo dia. Após a
limpeza e preparo inicial, o peixe é mergulhado em uma solução salina e, em
seguida, coberto com uma camada generosa de sal grosso, que ajuda na
desidratação e preservação. O peixe é então colocado em prateleiras de madeira,
evitando-se o metal para prevenir sabores indesejados, e seco ao ar livre,
longe da luz solar direta e de animais.
Salga do Peixe como Prática
Tradicional
___Escalar um peixe
consiste em abri-lo de forma incompleta pelo dorso e eviscerá-lo.
Posteriormente há a salga e secagem ao sol, já de conhecimento mais
tradicional, a exemplo do que ocorre com o bacalhau em Portugal, o qual
originou o conhecimento local.
Nota:
- A salga baseia-se no processo de desidratação por
osmose. Ou seja, ao se adicionar sal, o ambiente externo às células fica
supersaturado, puxando, assim, a água que está livre no tecido muscular do
peixe. Esta, por sua vez, vai sendo liberada das células, até que se concentre
no meio interior e exterior, havendo um equilíbrio (OGAWA; MAIA, 1999).
___Posteriormente à salga,
há a secagem que promove a retirada do excesso de água dos tecidos, contudo, o
maior contribuinte para esta secagem, não é o sal, e sim o calor e a circulação
de ar. Há neste processo, a saída da água através da evaporação da água
superficial e a migração da água do centro da peça para a superfície e
posterior evaporação (FERREIRA, 2002 apud OGAWA). O processo de secagem ao sol,
com salga prévia, era utilizado, também, pelos “caiçaras”,
para conservação mais duradoura do pescado. Acondicionado em local seco e
arejado, poderia manter-se bom para consumo, em até um ano.
___Primeiramente se extraem
as tripas do peixe, posteriormente ele é lavado e passado por uma salmoura.
Então é aberto, escalado e estendido nas redes expostas ao sol por dois ou três
dias, dependendo, obviamente, das condições climáticas.
___Conforme a técnica
utilizada na secagem do peixe, os pescadores igualmente modificam sua forma de
degustação. O seco pode ser consumido cru e desfiado, cozido e regado com
azeite, vinagre ou suco de limão e alho picado. Já o “enjoado”,
serve-se grelhado.
___Esta antiga técnica de
secagem do peixe, surgiu por conta do excesso do pescado e da necessidade de
conservação para os dias de escassez.
Secagem no Areal
___As pesquisas apontam que
antigamente fazia-se a “secagem em pleno areal”,
com determinadas ervas que evitavam o contato direto do peixe com a areia.
___Conforme antigos
pescadores, lembram-se com saudades do tempo:
“- Estendíamos o peixe em cima de
uma erva parecida com o feno. Depois de amanhado (processo de retirar as
tripas) e escalado, o pescado é colocado em água com sal. Muda-se a água duas
ou três vezes e depois coloca-se a secar no estenda.”
Identidade Gastronômica
___O peixe escalado,
salgado e seco ao sol constituiu-se em uma identidade gastronômica local,
patrimônio alimentar para a comunidade que pode ter sofrido algumas alterações
com o passar do tempo por conta da chegada da tecnologia, das geladeiras e
câmaras frigoríficas, as quais dispensam totalmente a necessidade da salga para
conservação do pescado com a posterior exposição ao sol. Diferentemente da
cozinha contemporânea que reflete o prazer pelo sabor, a tradicional foi
desenvolvida por necessidade. A globalização e o dinamismo de tecnologias
contribuem para constantes modificações em identidades culturais, transcendendo
tempo e espaço. Entende-se que nem sempre estas modificações sejam benéficas,
já que a memória da localidade tende a se perder à medida em que ela - a cidade
-, cresce, progride e se torna mais cosmopolita.
___A tradição e costumes
dos povos que forneceram respaldo cultural à história de Porto Alegre e da
antiga Villa dos Pescadores ainda persistem em sobreviver em meio a estas profundas mudanças. Novos
sotaques, hábitos e rituais são inseridos na rotina, percebe-se isto também
como resultado da globalização e da natural necessidade de constantes mudanças
do homem e o meio.
Varais
___Nas décadas de 1940/50/60, durante o Inverno, quem
atravessava os caminhos que cortam nas direções desta “villa”
de pescadores, dificilmente
não encontrava uma casinha ou choupana em cujo terreiro não ostente a
secar ao sol, em varais ou redes, uma multidão de peixe escalado desenhando um
risonho quadro de fartura no meio dessa população, em geral pobre.
Nota:
- Preso aos pares pelo atilho de embira (corda), o
peixe assim aberto e dependurado às varas delgadas, correndo em linha e
horizontalmente sobre estacas e prumo, palpita vagamente ao vento,
assemelhando-se, de longe, a enormes bandos de estranhas borboletas
gigantescas, de uma cor térreo-amarelada, que pousassem ao acaso entre verdura
à frente de cada vivenda (VÁRZEA, 1900, p.170-171)
Na Comunidade
___Mesmo cada família com
rancho próprio, mas muitas vezes o trabalho era comunitário. Em média, algumas
mulheres cuidavam de escalar o peixe fresco que no dia seguinte era colocado no
sol para secar. No começo, o produto era vendido no próprio local, de onde era
transportado para o Centro de Porto Alegre. Mulheres em período de gravidez não
escapavam de escalar peixe, as mulheres se divertiam nessa faina (trabalho
árduo), apesar de ser um trabalho pesado. Eram tempos de muito pescado – as
redes traziam de tudo – para ser trabalhado.
Nas Casas
___O trabalho nas salgas
podia ser comparado ao trabalho de extirpação e da salga do peixe que era
realizado nas casas conforme descreveu Virgilio Várzea, em 1900.
O trabalho de escalar peixe nas cozinhas das casas era realizado principalmente
pelas donas de casa e moças, que com muita destreza e alegria muitas vezes
entravam madrugada a dentro na tarefa de abrir o peixe pelas costas, lanhar no
sentido longitudinal, extrair a guelra, as ovas e a banha. O trabalho “só terminava quando o último peixe era escalado”. A
banha extraída depois era derretida e transformava-se num azeite que era
utilizado nas lamparinas (NOPES, p. 139).
Saberes e Receitas
___Frita, assada inteira e
na folha de bananeira escalada seca ou frescal e até no feijão como gostam os pescadores.
Escalada sobre a brasa perde grande quantidade de óleo e facilita a digestão.
___A prática dos saberes –
coentro, salsinha, cominho, cebola, limão, alho ou apenas o sal. “Sal, sol e ventilação”. Dois três dias para alguns, poucas horas para
outros, dependendo muito do resultado que se esperava. Varais repletos. Cuidado
e atenção para que o "bicho varejo”, nos
dizeres dos entrevistados, não contaminasse a carne.
“O que caía na rede era peixe.”
___Peixe escalado que ia
direto para o sal e sol. Acompanhado por salada, vinagrete, arroz, feijão e,
inevitavelmente, o pirão. Pirão que não poderia faltar à mesa dos pescadores.
Pirão d'água ou de nylon, pirão cozido, pirão de feijão; não importa, contanto
que esteja disponível à mesa.
___Conforme antigo
pescador:
“- Pega o peixe, escala ele, se
quer pra comer no outro dia deixa ele tomar um sol, dois dias, um dia, sol não
muito forte, mas um sol que esteja sol, chuva não dá. Aí estende ele, seca ele
como quiser, depois de secá, faz. A gente põe muito sal por causa dos bichos. E
o sal é pra mosca não posar também né, porque eu acho que além de conservar,
serve pra mosca não posar, porque se ela bota um ovinho, aí vira um cheiro (…) O
sal que enxuga. Salga a vontade, faz a vontade dele, Aí a gente guarda e faz o
que quiser. Ele fica no varal, assim como roupa. A gente tem que dar um jeito
nas moscas. É bom num lugar que tenha vento. Noutro dia nós escalemo uma aqui,
botamo um saco de coisa por cima, abanava, mas ninguém mais faz porque não tem
necessidade de fazer.”
Denominações
Seco – Seco é processado por um
processo químico de cura chamado maturação em sal, semelhante ao processo de
maturação de outros produtos maturados em sal, como o presunto de Parma.
Frescal – Se exposto pouco tempo
ao sol, de uma a seis horas aproximadamente (dependendo do preparador), o peixe
recebe a denominação de “frescal”, inclusive
não sendo denominado “seco”. Faz-se com pouco
sal e este não é retirado para o preparo final, ou seja, sem dessalga ou
hidratação prévia.
Escalação – As formas de se escalar o peixe, diferem um pouco entre si, mesmo
apresentando semelhante resultados finais: - Escalar é a coisa fácil, com
cabeça e tudo, corta-se pelas costas, cortar pela barriga não presta (É possível
se escalar pela barriga, mas pra assar na hora, para a venda não presta. O
espinhaço sai melhor. Escalar o peixe e deixar a espinha.
___Conforme relato do
pescador:
“- Para escalar, é o seguinte: - quando
é com cabeça, abre ela, escala, porque muita gente faz e não vira a espinha. A
gente já faz de acordo com aquele de “mil
novecentos e antigamente” que nem minha mãe
fazia né. Minha mãe trabalhava muito em cima disto aí, prestar serviço pra
outras pessoas, que naquela época não tinha serviço. Então é assim, ó: fulano
tinha peixe pra escalar. Então ela pegava, tinha bastante filho né. Então cada
um faz uma parte. … era com escama, porque era peixe pra eles vender em
armazém, então tinha que ser totalmente diferente de hoje. Pra conservar,
bastante sal, daquele sal grosso, ela ficava num tipo de uma prensa, deixava
escorrer, daí ficava lá, 3 dias no sol, no varal. Podia até pousar mosca, mas
nunca que penetrava ovo ali por causa do sal, é muito sal. Complementa seu
relato, ressaltando que a família toda se reunia para o trabalho, em uma
verdadeira “linha
de montagem”. Enquanto
um limpava, o outro cortava, o seguinte se incumbia da salga. Minutos depois,
estava pronto para ir ao sol. Cinco horas da manhã a gente já tinha que tá de
pé pra começar o ciclo de um fazia, cortava as bardana, outro fazia isto, outro
fazia aquilo, até chegar na minha mãe E eu fazia os fardinhos de 15kg pra
vender na venda, na época era nas vendas. Já seco. Aquele era seco mesmo, não
era frescal. Ele quase era “imprensado”
né? Ele ficava dentro de uma caixa, escorria 2- 3 dias
ali, depois botava no sol aí ele com 2 dias de sol, ele tava fininho, mas ele
ficava bem amarelinho, aquilo ali só podia comer assim ó: o pessoal ferventava,
desfiava e fazia ensopado. Ele é muito salgado. Não dava pra comer assim com
arroz, só assado. Não. Ele tinha muito sal. Já o que a gente faz (...) É que
nem o “bacalhau”, só que era um sal grosso
né. A gente nem vê mais este tipo de sal praticamente. Mas antigamente se tinha
bastante.”
___Novamente vê-se
diferenciações entre os preparos:
“- O sal de preferência é sal
grosso. Pra salgar peixe, botar na moura lá, salgar cação, salgar peixe, 2, 3
dias depois botar pra secar era com sal grosso. Antes fica no sal, depois fica
no sol. Eles bota aquela água toda aquela salmora toda, ele fica bem sequinho.
Tem que cuidar, bota meio dia de barriga pra cima, depois bota de barriga pra
baixo, 3, 4 dias e aí já tá seco. Todo tipo de peixe que era maior, matava
assim porque não tinha conservação se não fosse o sal.”
___Outro relato de preparo:
“- Os varais utilizados, ora para
roupas, ora para os peixes, estavam constantemente lotados, eu usava uma faca
boa, e o peixe escalado ele é cortado pelo dorso, ele tem um processo de
cortar. Tu não vai salgar o peixe tu abrindo na frente, ou fazendo ele lanhado.
Não, não. O escalado tu tira e pega assim pela parte de trás e vai indo, vai
indo, escalando por trás entendeu? Aqui a gente esticava no sol tá? Aqui tinha
espaços mais lá pra cima no campo ali, que eles tinham aqueles varais enormes e
colocavam nos varais. Eu peguei muito peixe secando no varal né, e eu ficava
pensando: puxa, mas daqui a pouco eu vou botar a roupa aí, que nojo! Os peixe
tudo pendurado no varal assim, como se fosse roupa. Nada que uma chuva não
limpe. Eu achava estranho, mas não indagava muito não. Pra casa era no varal,
mas se fosse pra comercializar, tinha um espaço pra pendurar o peixe ali. Só no
sal. Sem tempero. Só sal e sol. Além de relatar o preparo do peixe, deixa clara
sua contrariedade em relação ao presente. A forma de fazer era sempre a mesma.
Eu fui na casa de uma senhora aí, ela criou os filho todo naquela vida dela, de
escalar peixe, fazer ensopado. Hoje qual casa aí que faz ensopado de peixe?
Muito pouco. Hoje faz o peixe ensopado na base do tempero. Só querem fazer o
peixe na força do tempero.
Ensopado, assado. Escala o peixe,
um dia de sol, ela assada é uma beleza. Frescal né. Se pegar 3-4 dias de sol,
só ensopado, porque o peixe quanto mais seco é ruim, tira muito o gosto. Na
salmoura bota de manhã. O bom do peixe mesmo, é escalou, botou no sol. Você
come qualquer hora, como lá na brasa, pegou o peixe Frescal, dois de sol. Você
faz o fogo a lenha, aquilo dá que é uma beleza né. Tem um sabor que é uma
beleza.”
___Pescado “abrótea”:
“- Todo o segredo está no manuseio
da faca e compara o peixe ao “Bacalhau”: - Escalar
um peixe é fácil fazer né. Coisa mais fácil que tem é escalar um peixe,
eviscerar ele, pelas costas ou pela barriga, é todo manuseio da faca, do jeito
da habilidade de trabalhar. Igual fazer um bife. Se me perguntar se eu sei
matar um porco ou um boi, eu não sei, pra escalar e desmontar e desossar, eu
não sei. Mas um pescador sabe escalar um peixe. Nas antiga era tradição fazer (...)
Hoje mais ou menos a “abrótea” (Pintado), que é nosso “Bacalhau”
daqui.
Nota:
- No
contexto culinário, "abrótea" é um peixe de carne branca e
sabor suave, parente do “bacalhau”, muitas vezes chamado de "bacalhau brasileiro".
“Aí quando dá bastante,
ainda tem gente que escala pra sustento dele mesmo, não pra comercializar. Não.
Não. E o peixe no sal é saboroso né. Ah (...) No carvão, na grelha, à moda
portuguesa...Depois que escala pode fazer assado na grelha, ensopado, cozido,
até no feijão, é como “Bacalhau” você faz
bolinho, bolinho de peixe escalado, ele fica uma delícia né. Peixe seco é muito
saboroso.
___O sujeito deixa sua
receita para o Bagre:
- Preferencialmente deve ser
desfiado - Sabe escalar Bagre? Bagre é o seguinte: - corta a cabeça dele, aí
abre pelas costas, ali tem um osso da cabeça que é o osso que fica aqui atrás
da cabeça, quebra aqui com a machadinha, aí acaba, limpa, bota ele no sal, 5
dias no sal e bota no sol, tem que botar ele ali na caixa, couro com couro, não
pode botar carne com couro. Tem que ser carne com carne, couro com couro, umas
48 horas. Tem que lavar. Desfia ele todinho. Bagre escalado tem uma solução só:
é escalar de manhã. Bagre escalado frito já não é bom, O Bagre assado de forno,
já não é bom. O Bagre escalado é mais pra desfiar.
___Outro relato
pormenorizado tenta nos transportar ao passado para reviver as dificuldades de
sua vida e cita o Bagre como um dos peixes de sua preferência, para escalar:
“- Eu vivi muitos anos, nós
pescava o Bagre, tem vários tipos de bagre (...) Então nós pegava muito; aí meu
pai pegava, levava naqueles balaio, levava no local onde a gente fazia, então
lá as mulher se ajoelhavam e meu pai tirava a cabeça do Bagre, com esporão e
tudo, e só colocava pro lado só o toquinho com a carne, e ali sem cabeça, ele
abria, as mulheres abriam e faziam assim ó: em duas parte, então aquilo ali era
colocado no sol, igual um varal de roupa. Ali (...) igual aquele varal de roupa
que tem ali. Então a gente colocava muito sal, ele tinha que tá grosso de sal
pra não pousar bicho, sal que eles compravam de saco de 60kg, não era grosso
nem fino, era médio. Então ali a gente trabalhava 15 dias, 20 dias, secando
aquilo ali no sol, tirava e colocava. Tirava e colocava. Todo dia tinha que tirar
e colocar carne com carne, não podia botar couro com carne, tinha que botar
carne com carne, noutro dia a gente já pegava a dupla né? - O peixinho que tava
assim, o de cima e o de baixo, a gente abria e colocava nos varalzinho e ficava
cuidando, ali na força do sol quente mesmo, pro sol secar. Então era um
processo de 15 a 20 dias que meu pai levava pra secar 10 arroba, 8 arroba, 1
arroba tem 15kg, aí a gente secava tudo aí a gente botava no barco quando tava
prontinho a gente fazia aquele feixezinho, assim (...) aqueles molhinhos, a
gente amarrava com a imbira da bananeira ou um cipó, que não tinha corda, ou
uma corda de manilha que ele usava lá, mas era cara, então pra não comprar, nós
ia no mato tirava o cipó, meu pai preparava o cipó, ficava molinho e a gente
amarrava. Complementa mencionando que seco poderia durar meses: - Depois de
seco, ele dura cinco, seis meses. A força do sal era tanta que ele ficava tudo
amarelinho e pra tirar este sal, tinha que ser cozido, aferventado na panela,
tinha que botar água, botar ele ali dentro e tirando, tirando aquele sal, até
sair o sal pra desfiar ele pra fazer um ensopado, um assado de brasa, as nossas
mãe levava um bocado de tempo, não leva um dia só não, levava 2 dia tirando o
sal daquele peixe.”
___Os diferentes relatos
muitas vezes apresentam os mesmos resultados, o que é relativamente natural no
meio.
Saberes e Fazeres
___A transmissão dos
conhecimentos da preparação do “peixe seco” aos
descendentes diretos ou indiretos, cada vez se torna mais impossível. Alguns
ainda fazem, mas apenas para consumo familiar, já que não há mais a necessidade
da comercialização e a geladeira contribui para a conservação. Conforme:
“- Esta geração moderna não quer
nada disto né. Os filhos comem peixe, sabem cozinhar, quando querem né. Mas o
peixe escalado eles não sabem fazer. Ninguém faz mais. Não faz porque não tá
nem aí pra este tipo de coisa. Não quer aprender (...) não passei pros meus
filhos, eles não querem saber. Não, não (...) eles não sabem nem o que é isto.
A gente era mais obediente, a gente era criado assim pra fazer as coisa da
casa, nós éramos criadas assim.”
___Atualmente imaginamos
que vão fazer só na hora que quiser, no passado se fazia porque era obrigada a
fazer.
“- Todos tem filhos, netos, até bisnetos, que como
dizem só comem pastel, uma coisinha (…), sanduíche (…) miojo (...)
- Isto é comida? Não!
- Fazer, ninguém quer.
- Só querem comida pronta.”
___Igualmente a legislação
vigente pouca ou nenhuma responsabilidade possui no que diz respeito a
interrupção da transmissão dos saberes e fazeres desta tradição. A própria
comunidade, não manifestou interesse algum em dar continuidade a esta prática,
alegando dificuldades no preparo (por ser moroso e requerer um cuidado especial
em relação aos insetos) e por ser atualmente desnecessário, já que se possui
tecnologia para manutenção e conservação do pescado.
Poluição do Guaíba
___Os mais antigos, após a
poluição do Guaíba, a partir do final da década de 1960/70, com a queda vertiginosa do pescado
e da pesca, não ensinaram as técnicas do passado a mais ninguém.
Bacalhau da Villa
___Para a atual receita
certa do Bacalhau da Villa, buscamos no passado:
“- Recomenda o vento Sul para a
secagem do peixe ao sol, pois, é o melhor e afasta as moscas, tem que ser
limpinha já sem escama, salgado, seco, não tão seco, meio frescal. Frescal fica
duas horas no sol, com vento. Vento Sul é muito bom. Quanto mais vento mais
forte e a temperatura mais baixa, melhor, porque aí não pousa mosca. Que tem
todo este período: - se botar um peixe e começa a pousar mosca, e ela vem a
botar os ovos ali, o peixe já tá condenado. Então a gente trabalha muito em
cima disto aí: vento Sul é bom. Quanto mais vento, melhor. Hoje eu não faço mais
isto. Eu como e faço pra mim, mas assim ó: em grande quantidade se precisarem,
assim: - eu quero 500 kg de peixe escalado, eu não faço mais isto. Não faço
porque não tenho mais o lugar específico pra secar o peixe. Antigamente eu
tinha aqui em cima da peixaria, os cavaletes com varais, tudo direitinho né.
Usava, por exemplo, acordava 6 horas da manhã, botava o peixe, 10h tava
tirando. Não tinha problema, era só tirar o peixe dali e embalar e botar na “câmera”.
Porque a “câmera” seca também, a friagem seca ela. Ela fica até mais bonita,
ela dá uma coloração meio amarelinha. Ela fica boa.
___Em época, não dormia de noite,
nem eu, nem minha mulher, nem meus irmão. Tudo trabalhando. Quando não dava
temperatura muito alta, vamos fazer tudo de noite. De dia a gente bota só
escorrer e já guarda na “câmera”.”
___O peixe seco era
consumido, principalmente, durante o “Inverno”,
ou período da seca, quando a pesca era mais difícil.
Como era feito:
1. Abertura
e limpeza:
- O peixe era aberto pelo
lombo, retirando as vísceras e limpando-o cuidadosamente.
2. Salgamento:
- O peixe era coberto com
sal grosso, que ajudava na conservação e na retirada da umidade.
3. Secagem:
- O peixe era exposto ao
sol, geralmente em varais ou redes suspensas, até que estivesse seco o
suficiente para ser armazenado.
4. Armazenamento:
- Após a secagem, o peixe
era guardado em local seco e arejado.
Conservação:
- O método permitia que o
peixe fosse conservado por mais tempo, especialmente em épocas de abundância de
pesca.
Tradição:
- O peixe seco era uma
parte importante da culinária e da cultura de Porto Alegre, transmitida de
geração em geração.
Recurso:
- Era um alimento
importante para comunidades costeiras, especialmente durante períodos de
escassez ou quando o acesso ao pescado fresco era limitado.
___O peixe seco ao sol é
uma tradição que ainda pode ser encontrada em algumas regiões, mas com o avanço
da tecnologia, a refrigeração se tornou mais comum.
___Conforme relato:
“- Um dia nós tava naquela
correria, correria, e bota peixe e tem que ficar só um pouquinho. Não tinha
mais espaço aqui, eu fiz um varal de corda, aí botamos uns 50 peixes. Daqui a
pouco deu uma rajada de vento, que daqui a pouco nós olhamos: tudo no chão! E
eu tinha aparado a grama todinha, tá, e assim (…) e não deu tempo de ciscar, o
peixe bateu tudo em cima daquela grama, mas (...) ficou temperado. Meu Deus do
céu, era um fazendo uma coisa, outro fazendo outra, até nós pará. E nós ficamos
uma hora e meia tirando, lavando, limpando, bota mais um sal. De tu olhar um
pra cara do outro e dizer “eu não mereço”. Não podia botar embaixo da torneira, senão tu
tirava o primeiro sal dela né. Então tu tinha mais é que dar só uma lavadinha,
tirar o grosso, e limpar a carne bem limpinha, botar mais um salzinho de novo e
voltar (...) Temperada foi. E comeram Muito!”
Industria Pesqueira
___Também vê-se que o modo
de produção industrial que se dirigiu ao Sul, para a cidade de Rio Grande, foi
decisivo para transformar o desenvolvimento urbano e, inclusive, algumas
tradições, gerando uma mudança de valores. Esta transmutação é um marco entre a
separação do trabalho e do não trabalho, tendo o fator tempo como principal
motivo para sua ascensão.
Herança
___O “Bacalhau da Villa”, apenas alguns, menos que dois,
ainda sabem preparar esta iguaria, que hoje utilizando-se da gaiola para
impedir a infestação de insetos. Percebemos a intenção e necessidade de
preservação desta memória.
___O peixe seco ao sol e vento faz parte da história da antiga Villa dos Pescadores,
mas a prática como no passado, seria ilegal e necessário adequar a legislação
atual para produtos artesanais.
___A importância de manter viva uma prática que transcende gerações,
ensinando não só sobre culinária, mas sobre história, sustentabilidade e a
valorização de métodos tradicionais em um Mundo moderno.
HISTÓRIA NO RIO GRANDE
Charque de Peixe
___Pouco conhecido entre os
gaúchos, o “charque de peixe” era produzido com
o
Bagre, principal pescado a ser
salgado e colocado para secar ao sol.
Como o charque de gado, o peixe também era salgado e exposto ao sol
Revista do Globo, reprodução
Charqueada
___Todos sabemos da
importância que a indústria “saladeira” representou,
especialmente no século XIX, para o
desenvolvimento do Rio Grande do Sul.
Em 1820, Pelotas tinha 22
charqueadas e, em 1873, eram 38. A abolição da escravatura (1888) e a chegada da refrigeração, no início
do século XX, foram as principais causas do
encerramento do ciclo do charque.
Em 1918, naquela cidade do sul
riograndense, havia apenas cinco estabelecimentos produtores de carne salgada.
Charque de Peixe
___O que pouca gente sabe
(eu, pelo menos, não sabia) é que o Estado também produziu, embora em pequena
escala, “peixe seco”, que, segundo a matéria,
em sua maioria, era destinado aos Estados do Norte. Provavelmente, pela
abundância da carne de gado, os gaúchos nunca foram grandes consumidores de
pescado. O repórter afirma que “o aproveitamento que
fazemos do nosso peixe é ridículo. Temos infinitas possibilidades e, no
entanto, não nos mexemos. Cruzamos os braços. Contentamo-nos com sardinhas
enlatadas(...)”.
___Então, o tipo de peixe
mais abundante, pelo menos em determinada época, era o Bagre e, portanto, era
ele o utilizado para a elaboração do “charque de peixe”,
o chamado “peixe seco”. A indústria, se é que
dá para chamar assim, processava o resultado da pesca no Guaíba
e na Lagoa
dos Patos (Tapes, Barra do Ribeiro,
Itapuã e Ilha da Pintada) de maneira totalmente rudimentar. Não possuía
instalações, tudo era feito ao ar livre. Um toldo, um cepo, machadinhas, sal e,
assim, 20 toneladas de Bagre eram salgadas e encaixotadas entre os meses de
dezembro e fevereiro.
___Além da carne, também
era aproveitado o óleo, utilizado para amaciar o couro em curtumes ou para uso
veterinário em medicamentos. As espinhas eram destinadas à fabricação de adubo.
Como a atividade era sazonal, para os trabalhadores era uma espécie de bico.
Podemos dizer, ainda, que, embora a indústria alimentícia fosse de grandes
possibilidades, a pesca e salga do nosso Bagre se realizava em condições
bastante precárias.
___O jornalista conclui
dizendo que “o conhecido Bagre substitui entre nós, de
maneira passável, o hoje inacessível “Bacalhau”
português ou escandinavo”.
___Era consumido,
principalmente, durante o “inverno”, ou período da seca, quando a pesca era
mais difícil, para ser levado em viagens ou caçadas.
Conforme Ricardo Chaves (GHZ) 05/08/2019
CONHECENDO O BACALHAU
Stockfish
___O bacalhau seco é um
peixe sem sal, especialmente o bacalhau, seco ao ar frio e ao vento em grades
de madeira na orla costeira. As grades de secagem são conhecidas como flocos de
peixe. O bacalhau é o peixe mais comum usado na produção de bacalhau seco,
embora outros peixes brancos, como o pollock, o haddock, a linguiça e o cusk,
também sejam usados.
Bacalhau
___Ao longo dos séculos,
várias variantes de peixe seco evoluíram. O bacalhau, seco como peixe fresco e não salgado, é
frequentemente confundido com o bacalhau, onde o peixe é salgado antes da secagem. Após 2 a 3 semanas no sal, o peixe
amadureceu e é transformado de peixe salgado úmido em bacalhau
por meio de um processo de
secagem. O peixe salgado era anteriormente seco em rochas (clipes) na costa. O
método de produção do bacalhau (ou bacalhau em português) foi desenvolvido
pelos portugueses que primeiro extraíram sal perto das águas salobras de Aveiro
e o trouxeram para a Terra Nova, onde o bacalhau estava disponível em grandes quantidades. A salga
não era economicamente viável até o século XVII,
quando o sal barato do sul da Europa se tornou disponível para as nações
marítimas do norte da Europa.
___O bacalhau
seco é curado por um
processo chamado fermentação, no qual bactérias adaptadas ao frio o maturam,
semelhante ao processo de maturação do queijo.
___Palavra portuguesa para
bacalhau e, num contexto culinário, refere-se ao bacalhau seco e salgado. O bacalhau
fresco (sem sal) é
conhecido como bacalhau fresco. Os pratos de bacalhau
são comuns em Portugal e na
Galiza, no noroeste da Espanha, e em menor grau nas antigas colônias
portuguesas como Angola, Macau e Brasil. Dizem que existem mais de 1.000
receitas só em Portugal e pode ser
considerado o ingrediente icônico da culinária portuguesa (mas curiosamente o
único peixe que não é consumido fresco nesta nação amante de peixe).
___É frequentemente
cozinhado em ocasiões sociais e é o jantar de Natal tradicional português em
algumas partes de Portugal.
Outros Peixes Secos
·
Ikan asin cabe ijo, peixe seco salgado
servido com pimenta verde, um prato indonésio
·
Keumamah, peixe seco tradicional de
Aceh Peixe seco e polvo em Aceh, Indonésia
·
A cavala (Sukho
Bangdo em concani) é seca em Goa
desde os tempos antigos. Se bem conservada, pode durar muitos anos. Camarão e
tubarão também são secos em Goa.
·
Bacalhau (em veneziano: bacalà) é um bacalhau seco ao sol, em
vez de bacalhau salgado. Em outras partes da Itália, pratos feitos com bacalhau
salgado recebem o mesmo nome. Pratos de bacalhau feitos com bacalhau são
deixados de molho por vários dias para amolecer o peixe. O bacalhau, que já
está macio, também é deixado de molho para remover o excesso de sal.
·
Balyk é o termo russo para as
partes macias salgadas e secas de peixes de espécies grandes e valiosas, como o
esturjão ou o salmão. Com o tempo, o termo passou a ser aplicado também a
peixes defumados dessas espécies.
·
Boknafisk é uma variante do bacalhau
seco, um peixe sem sal parcialmente seco ao sol e ao vento em flocos ou em uma
parede. O peixe mais comum usado para boknafisk é o bacalhau, mas outros tipos
de peixe também podem ser usados. Se for usado arenque, o prato é chamado de
boknasild.
Nota:
- Bugeo se refere ao pollock seco.
·
Daing (também conhecido como
bulad ou tuyô) refere-se a peixe seco ao sol nas Filipinas. Quase qualquer tipo
de peixe é usado, mas a variante mais popular usa peixe-coelho (conhecido
localmente como danggit). Chocos e lulas também podem ser secos dessa maneira.
A quantidade de secagem pode variar. Na variante labtingaw, o período de
secagem dura apenas algumas horas, permitindo que o peixe retenha alguma
umidade e textura. Na variante lamayo, o peixe não é seco, mas simplesmente
marinado em vinagre, alho e especiarias.
·
Fesikh é um prato de peixe
tradicional egípcio que consiste em tainha cinzenta fermentada, salgada e seca,
da família mugil, um peixe de água salgada que vive tanto no Mediterrâneo
quanto no Mar Vermelho. O processo tradicional de preparação é secar o peixe ao
sol antes de conservá-lo em sal.
·
Gwamegi é um arenque do Pacífico
meio seco coreano ou saury do Pacífico feito durante o inverno. É consumido
principalmente na região da província de Gyeongsang do Norte, como Pohang,
Uljin e Yeongdeok, onde uma grande quantidade de peixes é colhida. O porto de
Guryongpo em Pohang é o mais famoso. O arenque ou saury fresco é congelado a
-10 graus Celsius e colocado ao ar livre em dezembro para repetir o congelamento
à noite e o descongelamento durante o dia. O processo continua até que o
conteúdo de água do peixe caia para aproximadamente 40%.
·
Hákarl é um alimento islandês que
consiste em um tubarão adormecido que foi fermentado e seco por quatro ou cinco
meses.
·
Harðfiskur é o termo islandês para
peixe seco (stockfish), uma iguaria islandesa (comido puro ou geralmente com
manteiga). Um tipo de peixe seco ao vento, chamado skreið, também seco, mas com
a cabeça, não é mais consumido domesticamente nos tempos modernos, sendo
vendido principalmente para a Nigéria, onde é usado em sopas.
·
Hwangtae se refere ao pollock do
Alasca seco no inverno, passando por um ciclo de congelamento e degelo.
·
Ikan asin é um peixe seco e salgado.
É um prato indonésio frequentemente servido acompanhado de arroz cozido no
vapor e pasta de pimenta sambal.
·
Jwipo é um tipo de carne seca de
peixe coreana feita pela prensagem, secagem e tempero de peixe-lima.
·
Katsuobushi é o nome japonês para atum
bonito seco, fermentado e defumado, às vezes chamado de bonito.
Um arenque defumado é um
arenque inteiro, um peixe pequeno e oleoso, que foi aberto da cauda à cabeça,
eviscerado, salgado ou em conserva e defumado a frio.
·
Kodari se refere ao pollock jovem
do Alasca meio seco.
·
Kusaya é um peixe salgado, seco e
fermentado ao estilo japonês. Possui um cheiro pungente, semelhante ao do
arenque sueco fermentado chamado surströmming.
O peixe das Maldivas é o atum
curado produzido tradicionalmente
nas Maldivas. É um alimento básico da culinária maldiva, assim como da
culinária cingalesa
·
Mojama (Espanha) consiste em
filés de atum curado em sal. A palavra mojama vem do árabe musama (seco), mas
suas origens são fenícias, especificamente de Gdr (Gadir, hoje Cádiz), o
primeiro assentamento fenício no Mar Mediterrâneo Ocidental. Os fenícios
aprenderam a secar o atum em sal marinho para que pudessem comercializá-lo. O
mojama é feito curando o atum em sal por dois dias. O sal é então removido, o
atum é lavado e então colocado para secar ao sol e à brisa (de acordo com o
método tradicional) por quinze a vinte dias.
·
Niboshi é o nome japonês para
sardinhas secas pequenas, consumidas como lanche e usadas para fazer caldo de
sopa. Também são consumidas na Coreia.
Nota:
- Nogari é o nome dado ao pollock jovem e seco.
·
Obambo é tilápia seca, preparada
cortando o peixe e secando-o ao sol por vários dias. É popular entre as tribos
Luo e Luhya, que vivem ao longo das margens do Lago Vitória, no Quênia.
Tradicionalmente, a pesca era estritamente proibida durante as estações chuvosas,
e as pessoas dependiam do obambo capturado mais cedo e preservado.
·
Karuvadu é um peixe seco, preparado
por meio da secagem ao sol por vários dias. Este procedimento é
tradicionalmente visto na costa de Tamil Nadu, na Índia. Diversas espécies de
peixes são secas ao sol e o tempo de armazenamento desses peixes secos varia de
vários meses a anos, dependendo da espécie.
·
Tatami Iwashi é um produto alimentício
japonês processado feito de sardinhas pequenas dispostas e secas, entrelaçadas
em uma única camada, formando uma grande camada semelhante a um tapete.
Normalmente, isso é feito secando-as ao sol em uma estrutura de bambu, um
processo que evoca a fabricação do papel tradicional japonês.
·
Bokkoms é uma tainha inteira,
salgada e seca, uma iguaria famosa da região da Costa Oeste da África do Sul.
Este peixe salgado é seco ao sol e ao vento e consumido após ser descascado. Em
alguns casos, também é defumado.
Técnicas
___A atividade de água, em
um peixe é definida como a razão entre a pressão de vapor de água na carne do
peixe e a pressão de vapor da água pura na mesma temperatura e pressão.
___Ela varia entre 0 e 1 e é um parâmetro que mede a
disponibilidade de água na carne do peixe. A água disponível é necessária para
as reações microbianas e enzimáticas envolvidas na deterioração. Existem várias
técnicas que foram ou são usadas para reter a água disponível ou removê-la
reduzindo-a. Tradicionalmente, técnicas como secagem, salga e defumação têm
sido usadas há milhares de anos. Essas técnicas podem ser muito simples, por
exemplo, usando a secagem solar. Em tempos mais recentes, foram adicionados
liofilização, umectantes de ligação de água e equipamentos totalmente
automatizados com controle de temperatura e umidade. Muitas vezes, uma
combinação dessas técnicas é usada.
História do Bacalhau
___O bacalhau
é produzido há pelo menos 500
anos, desde a época das
descobertas europeias do Novo Mundo. Antes da refrigeração, havia a necessidade
de conservar o bacalhau; a secagem e a salga são técnicas ancestrais para
preservar os nutrientes, e o processo torna o bacalhau mais saboroso.
___Os portugueses tentaram
usar esse método de secagem e salga em diversas variedades de peixes de suas
águas, mas o peixe ideal vinha de muito mais ao norte. Com a "descoberta" da Terra Nova em 1497, muito depois de os baleeiros bascos chegarem ao
Canal da Mancha - Port aux Basques, eles começaram a pescar em seus Grandes
Bancos, ricos em bacalhau. Assim, o bacalhau tornou-se um alimento básico da
culinária portuguesa, apelidado de “Fiel amigo”.
___A partir do século XVIII, a cidade de Kristiansund, na Noruega,
tornou-se um importante local de compra de bacalhau ou klippfisk (literalmente "peixe
de penhasco", já que o peixe era seco em penhascos de pedra à
beira-mar para começar).
___Desde que o método foi
introduzido pelo holandês Jappe Ippes por volta de 1690,
a cidade produziu klippfisk e, quando os comerciantes
espanhóis chegaram, tornou-se uma grande indústria.
___Diz-se que o prato de bacalhau
ou “bacalao”
é originário de Kristiansund, onde foi introduzido pelos compradores de
peixe espanhóis e portugueses e se tornou muito popular. ___O bacalhau era um alimento comum no
noroeste da Noruega até hoje, pois era barato de fazer. Nos últimos anos,
tornou-se menos um alimento básico do dia a dia e mais consumido em ocasiões
especiais.
___Este prato também era popular
em Portugal e em outros países católicos romanos, devido aos muitos dias
(sextas-feiras, quaresma e outros festivais) em que a Igreja proibia o consumo
de carne. Pratos de bacalhau eram consumidos em seu lugar.
Referencias:
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